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terça-feira, 19 de abril de 2016

Eu escolho ser livre - Jutília Quintas



“O pior cárcere não é o que aprisiona o corpo, mas o que asfixia a mente e algema a emoção.
 Ser livre é não ser servo das culpas do passado. Nem ser escravo das preocupações do amanhã.
Ser livre é ter tempo para as coisas que se ama. É abraçar, se entregar, sonhar, recomeçar.
É desenvolver a arte de pensar e proteger a emoção. Mas, acima de tudo…
Ser livre é ter um caso de amor com a própria vida.”

                                                                                                              Augusto Cury


Cada vez mais, temos menos necessidade de pensar, o que, à primeira vista, é muito cómodo. Lá vai o tempo em que sabíamos de cor os números de telefone das pessoas e instituições com quem contactávamos, a tabuada, o percurso dos rios, os caminhos-de-ferro, as serras e as cidades de Portugal, entre outras coisas; algumas delas até nem teriam grande interesse, pensamos nós. Temos, de facto, a tarefa facilitada; não é necessário saber, basta pesquisar na internet e já ficamos informados. Também não adianta memorizar, (para quê gastar a mente?...) está lá tudo (na net)! Agora é uma maravilha, nem precisamos sair de casa para falarmos com as pessoas ou para contactarmos com os funcionários das instituições ou até para uns momentos de laser. Está tudo lá, à nossa espera, é só clicar! Para quê a maçada de fazer contas e ter que pensar quanto é dois mais dois? É tudo digital, basta ter dedos…
Então, para que serve a nossa cabeça?!... Realmente, está a ficar cada vez mais desnecessária e ainda por cima, dói, de vez em quando. Talvez seja bom os cientistas começarem a investigar, nos laboratórios, uma maneira de fabricar pessoas sem cérebro. Ou talvez sem cabeça: assim, não pensam, não vêm e não ouvem asneiras atrás de asneiras que os senhores do poder (poder político, poder económico, poder religioso…) estão constantemente a fazer e a dizer. De certa maneira, as pessoas já “andam” cegas e surdas, uma vez que olham mas não vêm e ouvem mas não escutam. É que isto de observar e escutar também dá um bocadito de trabalho e puxa pela cabeça… E vá-se lá entender os outros, se nem a nós conseguimos entender…
Todas estas facilidades nos são dadas de bandeja e aceitamo-las de bom grado, deixando-nos enredar, cada vez mais, na teia que estão a urdir para nós, sem pensar o preço que vamos pagar por elas.
Se não exercitamos os nossos músculos, estes começam a atrofiar, até ficarem inertes. Com o nosso cérebro, passa-se precisamente a mesma coisa; se deixarmos de dar-lhe uso, fica cada vez mais lento. E tudo o que nos é posto à disposição para nos facilitar a vida está a conduzir-nos para um caminho sem retorno, se não estivermos atentos.
Ao dizer “pensar”, não estou a referir-me aos pensamentos que nos invadem constantemente e muitas vezes nos causam preocupação, sofrimento, ou nos levam a formular juízos de valor relativamente a outras pessoas. Estes pensamentos são resultantes do que nos vão incutindo ao longo da vida, quase sempre na base do medo, para nos manterem distraídos e continuarem a manipular-nos sem que nos apercebamos; chamemos-lhe uma manobra de diversão devidamente estudada e calculada. Para estes, é necessário fazer uma limpeza, tentar esvaziar a mente desses invasores, o que se pode fazer através da meditação, para permanecermos lúcidos, atentos, tranquilos e podermos aperceber-nos com facilidade destas artimanhas que tentam jogar sobre nós. O que quero dizer com “pensamentos” é ideias próprias, autênticas, sem manipulação de qualquer espécie.
Claro que não sou contra as novas tecnologias, muito longe disso, uso-as no dia a dia, mas é preciso ter consciência e saber usar sem abusar. Todo o progresso traz vantagens e desvantagens; devemos é raciocinar, enquanto sabemos fazê-lo, e saber utilizar estes meios que temos ao nosso dispor, sem correr o risco de perdermos o nosso discernimento. Para tudo, é necessário equilíbrio e sensatez.
Eu sei que tudo isto está a contribuir para que deixemos de pensar, ver e sentir por nós próprios. Mesmo dentro de nossa casa, somos constantemente manipulados, através da comunicação social. São as notícias das desgraças, que deixam as pessoas deprimidas e assustadas (também se passam coisas boas, mas isso, a comunicação social dá pouco ou nenhum relevo; afinal são as notícias com desgraças que captam mais audiência…). Depois é a publicidade enganosa, que “obriga” as pessoas a adquirir sem pensar, só porque ouviram dizer que era bom e se calhar barato e não é preciso pensar o que realmente se pretende; afinal, já pensaram por nós. Para quê pensar o que vou cozinhar, por exemplo, ou como criar um prato original? No supermercado há muita comida pré-cozinhada, é só aquecer e não preciso ter trabalho de cozinhar ou de gastar os meus neurónios a pensar o que fazer com alguns restos que tenho no frigorífico.
As criancinhas fazem muitas perguntas e não sabemos, ou não queremos pensar, como lhes responder; o sistema encarrega-se delas; vão desde muito cedo para as escolas, têm uma carga horário muito pesada e nalgum tempo livre que poderiam ter, vão para a piscina, para o ballet, para a música, etc. É que são muito chatas com as perguntas que fazem, querem respostas para tudo e nós não as temos nem queremos ter trabalho de investigar por nós, para podermos responder-lhes e, estando na escola, não terão tempo para nos fazer entender que não sabemos pensar por nós próprios. O sistema faz-lhes a cabeça, a seu bel-prazer; acabam por ser um produto fabricado, sem ideias próprias. As brincadeiras estão lá, à espera, sem necessidade de improvisarem algo para brincar; adeus criatividade… Já não se juntam na rua, devido à falta de segurança e os pais, no lugar de os acompanharem até um local público e estarem atentos à sua segurança, mandam-nos para casa, onde podem ver televisão, jogar consola ou estar no computador. As relações humanas começam aí a falhar, acaba o convívio; o convívio são e livre. Podem dizer que convivem na escola, mas aí estão a fazer o que lhes dizem e não a usar o seu discernimento à vontade. Alguns professores não entendem que assim é, mas estes já estão no sistema, de cabeça feita e o seu raciocínio já foi manipulado e não entendem o que dizem as mentes livres, que se estão borrifando para o dito sistema. Vangloriam-se, os senhores do poder, com a criação de novos currículos educacionais, e as crianças vão ficando na escola, cada vez mais horas, sem o convívio com os pais, e já não é raro ver crianças cansadas, deprimidas, que têm que recorrer ao uso de drogas farmacêuticas para poderem sobreviver ao sistema. Crianças, o nosso futuro… mas que futuro, se assim continuamos?!... A solução não passa, de forma alguma, por manter as crianças ocupadas durante tantas horas; a solução está em dar mais tempo aos pais para poderem educar os filhos, conviver com eles, tornarem-se cúmplices das brincadeiras, dos carinhos, dos afectos. Mas ao sistema, interessa que todos sejam educados da mesma maneira, para que haja uma só maneira de pensar, ou melhor, de ver as coisas. E é necessário que as pessoas vivam assustadas, para serem mais facilmente manipuladas e dependentes.
Todas as inovações que o progresso nos proporciona, dá-nos prazer e facilitam-nos a vida, é certo, mas, também nos roubam o contacto físico com as pessoas; agora é tudo virtual. E a aproximação física entre as pessoas é muito saudável e faz muita falta; reparem que um simples sorriso pode dar imensa alegria à pessoa a quem é dirigido e então um abraço, é uma boa terapia, tanto para quem o recebe como para quem o dá. Já para não falar da troca de ideias, frontal, olhos nos olhos, que enriquece enormemente os intervenientes. As pessoas, não se juntando, ficam mais isoladas e, desta maneira, tornam-se mais fracas para fazer frente aos esquemas que vão sendo montados para nos apanhar desprevenidos, pois a união faz a força.
Mas isso não interessa ao sistema; o sistema quer pessoas-robots, que pensem, sintam (ou até que não sintam) e ajam de acordo com os interesses económicos, políticos, religiosos… O sistema quer mortos-vivos. Nada de espertinhos com ideias novas. As ideias são só dos senhores do poder e do dinheiro, para ficarem cada vez com mais poder e mais dinheiro. A globalização também é uma maneira de manipular todos, da mesma forma e ao mesmo tempo; é a via mais rápida de controlar o mundo.
E para nos calar, vão-nos dando umas migalhas, para que fiquemos agradecidos e dependentes, cada vez mais dependentes. Sob o disfarce da boa vontade, vão-nos envolvendo com os seus tentáculos, tentando aprisionar-nos às ideias que querem impingir-nos. No fundo, dão-nos aquilo que é nosso, por direito, mas fazem-nos crer que é um favor, uma benesse. Fundam associações atrás de associações, que “alimentam” a pobreza e criam dependência, em vez de resolver os problemas que originaram aquela situação; é que se lhes resolvessem os problemas, as pessoas deixavam de precisar, ficavam livres e não seria tão fácil controlá-las, controlar-lhes as mentes.
O sistema não investe num mundo de amor, de respeito, de fraternidade, de solidariedade; aborda, sim, estas questões, mas ao de leve, só para iludir as pessoas, de que estão preocupados com estes assuntos. É pura demagogia. As regras, as leis, que nos impõem, pouco têm de humano.
Todo o sistema foi criado por pessoas, meros animais irracionais, numa luta desenfreada, cujo objectivo único é o poder e, para consegui-lo, usam todas as estratégias para nos convencer que estão empenhados no nosso bem-estar. Tretas!
É tempo de parar e pensar no que estamos a tornar-nos. É tempo de dizer basta. É tempo de pormos as nossas próprias ideias em ordem, enquanto não nos fazem uma lavagem ao cérebro com a desculpa de estarem a fazer um despiste de qualquer doença mais que venham e inventar num laboratório (para poderem vender o seu antídoto e com isso ganhar uma fortuna). Reparem que podem impedir-nos de agir e de falar mas não poderão (ainda) impedir-nos de pensar.
Vamos dar uso ao nosso cérebro. Vamos saber o que queremos e como consegui-lo, vamos ser nós próprios, vamos ser livres. A escolha é nossa e não vamos permitir que outros escolham por nós. Uma mente livre não precisa subjugar-se. Uma mente livre e lúcida vê os senhores do poder e do dinheiro, como escravos desse poder e desse dinheiro e tem pena deles. Dedicam a sua vida na luta pelo poder e esquecem-se de viver. Tão ricos e, na verdade, tão pobres. Coitados…

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. 
Óscar Wilde

Jutília Quintas







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