Desde a minha adolescência que nutro uma paixão por Virgílio Ferreira. Reencontro-o de longe a longe, em momentos preciosos de tão pertinentes, e em que a estranha sabedoria deste homem vem ter comigo em encruzilhadas improváveis.
Será que no seu tempo (encarnado) ele teve noção que estava a escrever sobre Física Quântica? Agora sim, sabe-o! Obrigada Mestre Virgílio Ferreira, uma montanha de saberes a descobrir, ou redescobrir...Vejam só...
Maria Adelina
"Um Mundo de Vidas
Nós vivemos da nossa vida um fragmento tão breve.
Não é da vida geral - é da nossa.
É em primeiro lugar a restrita porção do que em cada elemento haveria para viver.
Porque em cada um desses elementos há a intensidade com o que poderíamos viver, a profundeza, as ramificações. Nós vivemos à superfície de tudo na parte deslizante, a que é facilidade e fuga.
O resto prende-se irremediavelmente ao escuro do esquecimento e distracção.
Mas há sobretudo a zona incomensurável dos possíveis que não poderemos viver.
Porque em cada instante, a cada opção que fazemos, a cada opção que faz o destino por nós, correspondem as inumeráveis opções que nada para nós poderá fazer. Um golpe de sorte ou de azar, o acaso de um encontro, de um lance, de uma falência ou benefício fazem-nos eliminar toda uma rede de caminhos para se percorrer um só.
Em cada momento há inúmeros possíveis, favoráveis ou desfavoráveis, diante de nós.
Mas é um só o que se escolheu ou nos calhou.
Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte. Regresso à juventude, à idade adulta, ao simples dia de ontem e a infinidade de soluções que não adoptei dava para um mundo de vidas.
Foi uma só. Nela realizei, num único percurso, aquilo que constituiu o todo de uma vida humana.
E todavia, nessa estreiteza de ser está o infinito de mim.
Deus é a simplicidade absoluta e tem o máximo de ser.
Nós conhecemos em nós esse máximo e é por isso que ao Deus o soubemos inventar."
Vergílio Ferreira
in, Conta-Corrente 4
Não é da vida geral - é da nossa.
É em primeiro lugar a restrita porção do que em cada elemento haveria para viver.
Porque em cada um desses elementos há a intensidade com o que poderíamos viver, a profundeza, as ramificações. Nós vivemos à superfície de tudo na parte deslizante, a que é facilidade e fuga.
O resto prende-se irremediavelmente ao escuro do esquecimento e distracção.
Mas há sobretudo a zona incomensurável dos possíveis que não poderemos viver.
Porque em cada instante, a cada opção que fazemos, a cada opção que faz o destino por nós, correspondem as inumeráveis opções que nada para nós poderá fazer. Um golpe de sorte ou de azar, o acaso de um encontro, de um lance, de uma falência ou benefício fazem-nos eliminar toda uma rede de caminhos para se percorrer um só.
Em cada momento há inúmeros possíveis, favoráveis ou desfavoráveis, diante de nós.
Mas é um só o que se escolheu ou nos calhou.
Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte. Regresso à juventude, à idade adulta, ao simples dia de ontem e a infinidade de soluções que não adoptei dava para um mundo de vidas.
Foi uma só. Nela realizei, num único percurso, aquilo que constituiu o todo de uma vida humana.
E todavia, nessa estreiteza de ser está o infinito de mim.
Deus é a simplicidade absoluta e tem o máximo de ser.
Nós conhecemos em nós esse máximo e é por isso que ao Deus o soubemos inventar."
Vergílio Ferreira
in, Conta-Corrente 4
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