Requiem para a Imprensa
Sabemos todos onde leva isto. Os holocaustos não
acontecem da noite para o dia e estamos outra vez no caminho que vai dar a
barbáries
Há cem anos estávamos aqui. A internet não nos
salvou da manipulação da opinião pública no sentido de extremar as opiniões, de
acentuar os nacionalismos, nem do uso do medo para o conseguir. Sabemos todos
onde leva isto. Os holocaustos não acontecem da noite para o dia e estamos
outra vez no caminho que vai dar a barbáries.
A imprensa em muito tem contribuído para isto. É
verdade que a internet diversificou as vozes e o acesso, mas também é verdade
que mudou as regras do jogo. Para sobreviver, quero acreditar, a imprensa vê-se
obrigada a servir uma lógica de comércio. Títulos que levam a cliques ganham,
notícias que vendem ganham, o fácil, imediato ou escandaloso ganha cada vez
mais espaço na agenda noticiosa e a abordagem da imprensa aos acontecimentos é
deturpada pela necessidade de cativar o clique e de manter o espectador. A
notícia agora tem também de ser entretenimento.
As fronteiras entre imprensa pop e imprensa de
referência dissolveram-se e é cada vez mais difícil acreditar no que vem nos
media. É que os media já nos enganaram muitas vezes, a nós, que vivemos em
países democráticos e acreditávamos que a propaganda era coisa de literatura
distópica e estados totalitários.
A ideia romântica de que a imprensa relata factos,
defende a verdade e está acima de interesses foi assassinada pelas suas
associações políticas e financeiras. Do Brexit ao impeachment de Dilma, são
gritantes as consequências da manipulação da população através de inverdades e
distorções nas primeiras páginas dos jornais, nas capas de revistas, nas peças
dos telejornais.
Enquanto a imprensa não tratar de si e não for ela
mesma a garantia da sua idoneidade, teremos de ser nós a questionar toda a
informação que nos chega e a perguntar se haverá interesses disfarçados por
trás das notícias, se alguém terá alguma coisa a ganhar com a abordagem ao
assunto e, principalmente, que ideia sobre o mundo e a vida nos está a ser dada
a engolir.
Acreditar é um perigo, é dar de bandeja o poder de
construir a nossa realidade a outros. O homem que questiona é livre, e só esse
homem pode esperar alcançar um vislumbre da verdade e cruzar a vida sem estar à
mercê de manipulações e interesses alheios.
O futuro dos media tradicionais está nas suas
próprias mãos.
Não sei como poderão sobreviver ao perderem aquilo que os
diferencia, que é nada mais do que o facto de serem uma referência, o que se
traduz na confiança que temos em relação à informação que nos passam.
Esta confiança foi traída e ou a imprensa
tradicional nos prova que está acima de interesses económicos e de grupos, ou o
seu futuro avista-se curto. É que a informação anda por aí e não há tempo para
se viver enganado.
Sónia Balacó
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