Que serventia
teve a nossa vida?
A
preocupação maior das pessoas é o acessório.
Fiz
recentemente duas visitas guiadas a dois cemitérios da cidade do Porto: Lapa e
Prado do Repouso. A quem ainda não fez este tipo de visita aconselho vivamente
que o faça porque enriquece-nos culturalmente e obriga-nos a colocar muitas
questões a nós próprios.
Os
cemitérios, locais de culto da morte, eram e, infelizmente continuam a ser, uma
feira de vaidades, locais de passeio e de coscuvilhice.
Um local
vocacionado para a perpetuação da memória dos que estão no outro lado da
fronteira não deve ser jamais uma montra de vaidades. As memórias e a saudade
dos que iniciaram a viagem ficam em nós, no nosso coração, pelo que não
necessitam de ser exibidas publicamente.
Não obstante
o que acabei de escrever, até acho os cemitérios locais bonitos pela sua amplitude
e dimensão e muitos deles até convidam à serenidade e à meditação
(principalmente aqueles que têm bancos à sombra de alguma pequena árvore).
O que é que
as pessoas fazem de útil na vida e para a vida?
A utilidade
da vida resume-se a uma lápide no cemitério? Ao dinheiro ganho durante a vida?
Que
serventia teve a nossa vida?
Que serviço prestamos
aos outros?
O que
fizemos nós durante esta vida que não fosse pensar na morte e na estátua que
nos perpetuará quando passarmos a fronteira?
Que os cemitérios
sejam lugares de interrogação e não apenas de decomposição; que sirvam também
para nos lembrarem o significado da palavra "SERVIR" para quando nos
transcendermos o façamos com o sentimento de que, pelo menos, servimos para
além de usufruirmos.
Elisabete
Pinho
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