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domingo, 29 de novembro de 2015






O Trabalho (físico, intelectual, espiritual)










E alguém disse: Fala-nos do Trabalho



E ele respondeu, dizendo:
Trabalhais para manter o compasso da terra e da alma da terra.
Porque estar ocioso é ficar estranho às estações, e afastar-se da procissão da vida, que majestosa e altivamente submissa, caminha para o infinito.
Quando trabalhais, sois uma flauta através da qual o murmúrio das horas se transforma em música.
Quem de entre vós gostaria de ser cana muda e silenciosa, quando tudo canta em uníssono?
Sempre vos disseram que o trabalho é maldição e a labuta um infortúnio.
Mas eu vos digo: quando trabalhais cumpris uma parte do sonho mais longínquo da terra, que vos foi atribuída quando tal sonho nasceu.
Mas se, no excesso da vossa dor, chamais aflição ao nascimento e ao peso da carne maldição escrita na vossa fronte, então digo-vos que apenas o suor da vossa fronte lavará o que lá está escrito.
Disseram-vos também que a vida é obscuridade e na vossa fadiga repetis o que dizem os cansados.
Ora eu digo-vos que a vida é, realmente, obscuridade, menos onde há entusiasmo; e todo o entusiasmo é cego, menos onde há sabedoria; e todo o saber é vão, menos onde há trabalho; e todo o trabalho é vazio, menos onde há amor; e quando trabalhais com amor unis-vos a vós mesmos bem como uns aos outros e a Deus.
E o que é trabalhar com amor?
É tecer o pano com fios tirados do vosso coração,
É construir uma casa com afecto,
É semear o grão com ternura e recolher com alegria,
É deixar em quanto fazeis um sopro do vosso espírito, sabendo que todos os mortos bem-aventurados estão junto de vós, vigilantes.
Muitas vezes vos ouvi dizer, como em sonhos:
Aquele que trabalha com o mármore e encontra a forma da sua alma na pedra, é mais nobre que o lavrador.
E o que pega do arco-íris e o estende na tela à semelhança do homem, é mais do que que aquele que faz sandálias para os pés.
Mas eu digo-vos, não sonhando, mas bem acordado e ao meio dia, que o vento não fala mais docemente ao carvalho gigante do que à humilde folhinha de erva.
E só é grande, quem transforma a voz do vento em canto tornado mais doce pelo próprio amor.
O trabalho é amor tornado visível.
E se não puderdes trabalhar com amor, mas apenas aborrecidos, mais vale abandonardes o trabalho e sentados à porta do templo receberdes esmola dos que trabalham com alegria.
Porque se fizerdes o pão com indiferença, será um pão amargo que não matará senão metade da nossa fome.
E se esmagardes as uvas de mau humor, será misturar veneno no vinho.
E ainda que canteis como os anjos, se não amardes o canto, fechareis os ouvidos do homem às vozes do dia e às vozes da noite.

Khalil Gibram – In O Profeta


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