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domingo, 14 de outubro de 2018

A Fátima que vi


Fui a Fátima, no passado mês de Setembro. Já lá não ia há cerca de 18-20 anos. Fiquei brutalmente espantada com o crescimento da cidade quer no que diz respeito a habitações quer no que diz respeito a unidades hoteleiras. Proliferam, como seria de esperar, lojas, parques de estacionamento e um sem número de congregações e associações de apoio aos peregrinos.
O Santuário propriamente dito, para além de me deixar brutalmente espantada deixou-me estupidamente estupefacta. Passo a explicar os advérbios de modo.
Não conhecia a moderna Igreja da Santíssima Trindade. A sua grandiosidade deixou-me perplexa no que diz respeito à sua dimensão e também à riqueza de materiais. Fiquei igualmente admirada com as filas para comprar a "cera" para pagar promessas e com as filas para pagar essas mesmas promessas. As velas são acesas e literalmente atiradas para dentro de fornos que mais me fizeram lembrar o purgatório (se é que este existe). Há uma proliferação de caixas de esmolas colocadas em locais estratégicos. A Basílica da Nossa Senhora do Rosário alberga os túmulos dos três pastorinhos: túmulos sóbrios, mas ricos de materiais. Como poderia ser de outro modo? 
Poderia perder-me em outras tantas considerações e igual número de constatações, mas o importante é que me foquei praticamente em duas questões:
1ª Para onde vai tanto dinheiro?
2º Como pode a Fé ser negociada naqueles termos ou noutros quaisquer?
Considera-se que o Santuário de Fátima é um lugar sagrado. Confesso que de sacralidade pouco ou nada percebi. A Fé não se negoceia. Não pode ser uma mercadoria transaccionável. A verdade é que somos todos sofredores de Fé que deve ser um estado intimista e que, a meu ver, deve seguir uma espécie de interacção com o divino, como se de uma Ponte se tratasse. Nós e Deus! Nós e o Divino, num diálogo permanente, crítico e autocrítico, construtivo, apaixonante e amoroso. Um diálogo corajoso que nos permita identificar e assumir os pontos fracos das nossas Pontes. E corrigi-los com humildade.
Não senti nada disto em Fátima. Não senti o coração apertado de emoção. E fiquei triste e desiludida porque gostaria de me ter sentido emocionada.
E volto a perguntar: para onde vai tanto dinheiro? Para alimentar a opulência? Esta não é a Igreja que Cristo estabeleceu na pregação da Sua Doutrina. A Igreja de Cristo, não estará onde estiver o bem, a compaixão, o amor, a Missão? 
O Iémen situa-se a 6.074 Km de Portugal e neste País " A ONG britânica Save The Children alertou esta quarta-feira para a realidade vivida pelas crianças do Iémen. Mais um milhão de crianças está em risco de fome, subindo o número para 5,2 milhões de crianças que vivem nestas condições", assim como o Relatório da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo em 2018, divulgado esta terça feira, por cinco agência da ONU refere que "O número de pessoas subnutridas aumentou de 804 milhões em 2016 para cerca de 821 milhões no ano passado. O mundo regressou a níveis registados há 10 anos".

Para onde vai tanto dinheiro e onde está a Igreja de Cristo? 

E posto isto, para onde vamos nós, pequenos pagadores de promessas?


Elisabete Pinho



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