Portugueses e Portuguesas
Todos nos chocamos com a
separação de crianças dos seus pais que se encontram ilegalmente num país, mas
fazem-se leis que legitimam a possibilidade de se afastar definitivamente uma
criança da sua mãe
Vários políticos portugueses
incluindo o Presidente da República dirigem-se a nós dizendo portuguesas e
portugueses… Para mim é estranho já que a gramática portuguesa diz que o plural
se diz no masculino quando o conjunto a que se refere contém elementos masculinos.
Em conversa, disseram-me que
a expressão usada pretende dar uma tónica de respeito pelas mulheres afirmando
a importância do seu papel na sociedade. Conformei-me!
Entretanto, muito se tem
dito em defesa das mulheres e do seu reconhecimento na sociedade, infelizmente
grande parte é, a meu ver, asneira. Ultimamente o tema tem evoluído e parece já
não ser tema as mulheres mas as pessoas de sexo X. O que é isto? Uma invenção
no sentido de nos indiferenciar, de nos convencer que aquilo que somos pode ser
mudado só porque não queremos ser o que somos. Na prática pretende-se outra
coisa ainda mais perigosa que é a todo o custo apagar o conceito de verdade e
com isso conquistar a possibilidade de afirmar qualquer barbaridade, aplicar
qualquer política ou fazer uma qualquer lei impondo regras contra natura,
corroboradas em afirmações falsas, renomeadas por novas verdades da era da
pós-verdade (onde “factos objectivos têm menos influência na formação da
opinião pública do que os apelos à emoção e a crenças pessoais”). Esta ideia é
de facto maquiavélica, mas, infelizmente, eu não estou a delirar. Isto está
mesmo a acontecer e já há bastante tempo.
São exemplo do que disse
todos os temas que dizem respeito à vida humana. Por exemplo o aborto é
apresentado como uma medida de respeito pela liberdade da mulher. Na realidade
todos sabemos, mas não nos convém admitir, que tudo na vida em sociedade nos
condiciona a liberdade de acção. Não posso ir a um restaurante se não puder
pagar porque prejudico o dono do restaurante, não posso conduzir com um
determinado nível de álcool no sangue porque posso, sem querer, matar alguém,
mas posso ter relações sexuais ocasionais apenas por desejo de prazer e, sem
querer, conceber alguém. Nestes casos já posso matar alguém porque esse alguém
depende unicamente de mim, domino-o inteiramente, sou dona desse alguém e
portanto decido sobre o seu destino com base no que acho que é melhor para mim.
Na pós-verdade, isso chama-se liberdade e respeito pelo corpo da mulher.
Outro exemplo são as
barrigas de aluguer que, na pós-verdade, se chamam maternidade de substituição.
Todos estamos chocados com a separação de crianças dos seus pais que se
encontram ilegalmente num país, porém fazem-se leis que tornam legal a
possibilidade de se afastar definitivamente uma criança da sua mãe, à nascença,
e sem possibilidade de um dia mais tarde saber quem é a sua mãe. Chama-se a
isto, na pós-verdade, direito de ser mãe. Último exemplo, embora existam muitos
mais, é a mudança de sexo no cartão do cidadão. Um rapaz fisicamente rapaz,
cujo corpo produz as hormonas próprias do sexo masculino e que tem os
cromossomas do sexo masculino, sente-se rapariga e quer que a sociedade o
reconheça no grupo das raparigas. Chama-se a este sintoma de perturbação
psicológica, na pós-verdade, liberdade de escolha da identidade sexual.
Resolvi escrever sobre isto,
sobressaltada com a notícia que li relativa à legislação inglesa que proíbe
o tratamento de perturbações relacionadas com a identidade sexual. Este
caso não é o único. Em 2016 Malta aprovou uma lei para «afirmar que nenhuma
orientação sexual, identidade de género e expressão de género constitui
perturbação, doença, deficiência, incapacidade ou anomalia; e para proibir
práticas de conversão como acto enganador e prejudicial…» Todas as pessoas
acusadas de práticas «terapias de conversão» serão multadas até €10,000 e um
ano de cadeia.
Se a destruição da verdade
já é, por si, dramática, torna-se perigosíssima quando as mentiras são
convertidas em verdades e os legisladores as impõem à sociedade. Se já é grave
haver leis que permitam coisas erradas em nome de mentiras tornadas verdade,
pior é quando nos obrigam a fazer aquilo que é errado e nos proíbem de agir
bem. Essa é a realidade dos psicólogos e psiquiatras em Inglaterra, em Malta, e
não só. Existem imensos casos que comprovam que a percepção errada do sexo é
uma questão que pode ser clinicamente aborda quando a pessoa não se sente bem
com isso, no entanto essa alternativa está agora vedada em alguns países. Não
me fico só por palavras mas deixo-vos dois links (este e este) com casos concretos que ilustram o que afirmo.
Tal como com qualquer
sofrimento de natureza psicológica, cada pessoa merece o nosso respeito mesmo
quando não quer ser tratada ou quando o tratamento não é eficaz. Isto que acabo
de dizer é óbvio porque todas as pessoas independentemente das suas
circunstâncias merecem ser respeitadas, mas, hoje em dia, se não fizer esta
ressalva, corro o risco de ser imediatamente catalogada como homofóbica e
outras coisas piores.
A história diz-nos que a
sucessão de acontecimentos obedece a ciclos. Tivemos na Europa ciclos de paz e
ciclos de guerra ou ciclos de ditaduras disseminadas por muitos países e ciclos
de vivências mais democráticas. Acredito que o que estamos a viver nos está a
levar para novas formas de ditadura e que portanto estamos a passar um ciclo
mau. Está nas nossas mãos inverter a situação. Não é voltar atrás. Isso nunca
acontece e ainda bem. Refiro-me a tomar consciência, aprender com os erros que
estão a ser cometidos, e avançar para um novo ciclo onde a verdade volta a ser
um valor a preservar. Estou portanto assustada mas cheia de esperança porque a
verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima. Escrevo sobre este tema
procurando dar um pequeníssimo contributo para o novo ciclo que talvez não me beneficie
a mim, mas aos meus filhos e netos.
Rita Fontaura
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