Numa
época em que se discute tanto sobre tantas coisas, a reflexão impõe-se sobre
temas como a eutanásia, a mudança de género, o sporting, o regulamento geral da
protecção de dados, os atentados e por aí fora.... Desta vez, as minhas pobres
palavras voltam-se para a eutanásia, sem me importar muito com as discussões
partidárias, os pareceres das diversas confissões religiosas e da comissão
nacional de ética. Nada deve ou pode sobrepor-se ao valor da vida. Não
encontrei até agora, argumentos válidos que me convencessem do "pró
eutanásia".
A vida é UNA, INTRANSMISSÍVEL, DIVINA e SAGRADA.
A Vida é um DOM.
Encontrei,
hoje, por mero acaso, um artigo sobre a eutanásia, artigo que envio em anexo..
Sem floreados e com dignidade!
Bem-hajam!
Elisabete
Pinho
"E se ajudássemos os outros a viver?
Nunca fui
autónoma, mas isso não me tornou menos digna em nenhum dos dias, desde que
nasci. É por isso que não posso ficar em silêncio, numa altura em que nos
preocupamos em como ajudar os outros a morrer
"Enquanto encararmos as nossas incapacidades como
tragédias, terão pena de nós. Enquanto sentirmos vergonha de quem somos, as
nossas vidas serão vistas como inúteis. Enquanto ficarmos em silêncio, serão
outras pessoas a dizer-nos o que fazer” (Adolf Ratzka).
Sim, eu tenho 95% de incapacidade motora, avaliada por
uma Junta Médica. Mas a minha vida nunca foi uma tragédia, apesar de todos os
“tsunamis” que tive de enfrentar. A minha vida não é inútil porque sei que
através dela posso ser relevante para quem acha que já perdeu a esperança. Os
outros até podem dizer-me o que fazer, mas a minha liberdade individual levou
sempre a melhor, ainda que “aprisionada” numa cadeira de rodas. Sabem porquê?
Porque eu nunca tive vergonha de pedir ajuda, para viver. Nunca fui autónoma,
mas isso não me tornou menos digna em nenhum dos dias, desde que nasci. É por
isso que não posso ficar em silêncio, numa altura em que nos preocupamos em
como ajudar os outros a morrer. E se ajudássemos os outros a viver?
Se calhar mais do que ser pró-vida - ao defender a
vida independente e assistida e os cuidados continuados e paliativos, ao
alcance de todos - sou fundamentalmente contra uma coisa: isto do ser-se
“morno” e a descambar para o contraditório. Quem defende o chamado “direito a
morrer com dignidade”, não me convence que é a favor da vida. A favor da vida é
quem dá, se for preciso, a própria vida (e com isto quero dizer, o seu tempo, a
sua entrega, dedicação, presença e atenção) aos outros. É quem ajuda os outros
a viver.
Esta semana ouvi uma frase que contraria aquilo que
considero óbvio: “SE eu não fizer pelos outros, quem o fará?” - basicamente o
resumo de toda a vida de Jesus na terra, aquele que considero ser o maior
Mestre da Inclusão, de todos os tempos. Em oposição a isto temos “o mantra da
auto-ajuda” que defende: “SE eu não fizer por mim, quem o fará?”.
Achamos que estamos a ser profundamente solidários ao
nos colocarmos do lado dos que dizem “sim” a ajudar alguém a acabar com o seu
“sofrimento profundo”. Que acto de altruísmo este! Afinal, se não há
auto-ajuda, nós damos uma mãozinha…! Pergunto: seremos nós alguma vez capazes,
enquanto seres humanos limitados, de compreender o sofrimento de alguém?
Seremos nós alguma vez capazes, enquanto seres humanos limitados, de decidir
quando ele deve terminar?
Para aqueles que dizem que temos o direito à vida e à
morte, não concordo que isto seja assim tão linear. Porque direito à vida, como
eu o entendo, não foi uma decisão minha. Primeiro, existi; a seguir é que
percebi que estava na vida, logo tinha o direito a vivê-la (no meu caso,
prefiro considera-la um dever!), a partir do momento em que fui colocada cá. A
vida é para todos uma viagem com princípio, meio e fim. Agora, direito a querer
morrer, a morrer de facto e a querer que me matem, são coisas totalmente
diferentes.
Chamando as coisas pelos nomes: se eu quiser acabar
com a minha vida, é suicídio. Se alguém acabar com a minha vida, é homicídio. O
resto? Para mim está claro: o resto é um emaranhado de fios que confundem
amor-próprio com egoísmo, compaixão com piedade, direitos com deveres, dor com
sofrimento e o que significa realmente a tão repetida “dignidade”. Os
defensores da eutanásia acham mesmo que ajudar uma pessoa a morrer é estar a
fazer algo por ela? Sou obrigada a concordar: ajudar alguém a morrer é
tirar-lhe a vida. É, sem eufemismos, matar essa pessoa.
Dentro de dias a agenda mediática vai falar da
celebração internacional das Doenças Raras, como é a minha - e atenção que eu
sou uma abençoada na minha condição de deficiente. Experimentem pesquisar sobre
isso e vão ver que isto de ter uma doença rara é cada vez menos raro. Viver com
uma doença terminal, também já deixou de ser raro. Raro é quem tem a capacidade
de ajudar os outros a viver. Raro é quem está com o outro como uma extensão de
si mesmo - como um leitor fiel e presente - em vez de ter um papel de
co-autoria no fim da história. Raro é viver a vida como um milagre diário,
agora e até à hora (natural) da nossa morte."
Mafalda Ribeiro
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