Quantas pessoas não imaginam que a espiritualidade
consiste tão somente em ler alguns livritos sobre ocultismo, em assistir a
algumas sessões espíritas e em consultar clarividentes para que estes lhes
revelem o seu futuro ou as suas vidas anteriores! Ah, lá isso eles encontrarão,
clarividentes é o que por aí não falta!
Existem milhares e milhares de
indivíduos que se dizem médiuns, videntes extraordinários, e que anunciam nos
jornais os horóscopos que fazem, os seus talismãs e as suas jóias que vos
trarão tudo: a felicidade, a riqueza, o amor, a sorte. Eu acredito que existem
alguns grandes clarividentes no mundo, mas a maioria, nem me falem neles!
Ninguém acredita mais do que eu na clarividência e sinto-me feliz por a ciência
oficial começar a admitir que existem na terra criaturas que possuem faculdades
de percepção extra-sensorial, e a estudá-las. Mas, na realidade, para mim a
questão não está em duvidar ou acreditar, mas em encontrar os melhores métodos
de trabalho para avançar na vida espiritual... Os melhores significa os menos
perigosos, os mais eficazes, talvez os mais longos, mas os mais duradoiros. O
que é triste é que as pessoas são apressadas, não têm paciência nem confiança
para enveredar por uma via luminosa, mais lenta, mas mais segura. Têm pressa,
querem tornar-se clarividentes assim como poderiam tornar-se
"pedicure" ou "manicure", e logo que obtêm um pequeno resultado
fazem um alarde enorme disso para atrair clientela, e assim induzem muita gente
em erro, aproveitando-se do facto de o comum das pessoas não ter discernimento
e acreditar em tudo.
Quantos homens e mulheres não decidiram exercer a profissão de clarividentes,
de médiuns, porque são incapazes de fazer outra coisa! Conheci muitos assim.
Durante anos, vi-os experimentar uma profissão, depois outra, mas nada
resultava; e um dia eu vinha a saber que eles se tinham tornado clarividentes,
cartomantes, etc. ...
Eu ficava estupefacto. As pessoas vivem de qualquer modo, não praticam qualquer
disciplina, e são clarividentes! Sob o pretexto de alguma vez terem dado, por
acaso, uma ou duas respostas certas ou de terem tido sonhos premonitórios,
dizem-se clarividentes. E existe gente assim! Eu não digo que eles não tenham ligeiros dons psíquicos, um pouco de intuição,
um pouco de sensibilidade ao mundo invisível, mas têm sobretudo muita
habilidade e muito descaramento. Elas compreenderam que os humanos têm
necessidade de ser sossegados, lisonjeados, e então dizem-lhes aquilo que eles
querem ouvir.
Algumas vezes elas até nem vêem nada, mas, para não decepcionarem aqueles que
as consultam, para não perderem o prestígio, ou mesmo, muito simplesmente, para
não perderem dinheiro, dão respostas vagas, tentando não se comprometer. Não
existem muitos videntes honestos que vos digam francamente: «Desculpe, mas hoje
não posso dizer-lhe nada. Não vejo nada. Volte cá noutra ocasião.» Não, eles
fingem. No início, é claro, as pessoas duvidam um pouco daquilo que lhes dizem.
Mas dá-lhes tanto prazer ouvir dizer que vão encontrar finalmente o homem ou a
mulher da sua vida, receber uma herança ou satisfazer todas as suas ambições! E
se isto não acontece, não há problema, elas continuam à espera ... Ao passo
que, se alguém lhes disser que terão de enfrentar dificuldades, provações,
ficarão sem vontade de o consultar mesmo que estas se realizem: têm a impressão
de que esse clarividente não é benéfico para elas e voltam àquele que lhes
prediz todos os sucessos. Se as magníficas previsões não se realizam, vão
consultá-lo de novo para lhe perguntar o que se passou. «Foi simplesmente
retardado por causa desta ou daquela posição dos astros», diz o clarividente
para as sossegar, «mas vai acontecer, tenha paciência» ... E eis de novo a
esperança, eis de novo a alegria.
Sim, é, assim ... Então, de quem é a culpa? Daqueles que vão consultar os clarividentes, claro.
Uma vez que têm tanta necessidade de que lhes contem histórias, as pessoas
encontrarão sempre alguém muito bom, muito caridoso, que terá prazer em
contar-lhas. Quanto aos ditos clarividentes que se afirmam capazes de
aconselhar os outros, de responder às suas questões sobre o passado, o presente
e o futuro, e de resolver os seus problemas, como é possível eles não sentirem
que correm o risco de fazer as pessoas perderem-se? Que responsabilidade! E por
que fazem eles isso? Pelo dinheiro? Pelo prestígio? .. Pois bem, devem saber
que o mundo invisível não gosta de que se sirvam dele desse modo e
castigá-los-á.
Eu não nego, repito, que certas pessoas têm um dom, mas esse dom não as coloca
ao abrigo das fraquezas e também não as protege das entidades tenebrosas que
vêm visitar todos aqueles que não sabem resistir às tentações, aos seus desejos
inferiores. Pode-se ser clarividente e, a par disso, dar mostras de uma
moralidade duvidosa. Como se pode ser poeta, músico ou filósofo e viver mais ou
menos como um animal. Certas pessoas possuem o dom da clarividência porque numa
outra encarnação fizeram os esforços necessários para o obter; e como no
presente se deixam conduzir pelas suas tendências inferiores, tudo se manifesta
conjuntamente: as suas fraquezas, os seus vícios e o seu dom de clarividência.
Será assim até elas perderem esse dom, como perderão também o dom da poesia, da
música ou da filosofia todos aqueles que não tiverem sabido trabalhar
interiormente para o conservar. Aliás, o dom desses clarividentes não será
verdadeiramente notável se eles não possuírem outras qualidades. Portanto,
atenção! Se quiserdes mesmo consultar clarividentes, ao menos que não seja uma
pessoa qualquer.
Agora, gostaria também de chamar a vossa atenção para o seguinte: muitas
pessoas vão consultar clarividentes e põem questões para as quais elas mesmas
encontrariam a resposta se utilizassem a sua própria inteligência, o seu juízo
e o seu bom senso. Têm tantos indícios na sua frente, diante dos seus olhos,
mas não os vêem, não os compreendem, e para serem esclarecidas irão consultar
videntes, cartomantes e outros. Para que servem os olhos, os ouvidos e o
cérebro que o Senhor deu a cada um se se passa a vida a interrogar os outros?
Aliás, por que é que se vai fazer perguntas aos outros? Para conhecer a
verdade? Nada disso: muitas vezes até é o contrário, vai-se colocar questões
para se ser encorajado a fazer o mal.
Mestre Omraam
Mikhaël Aïvanhov
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