“Escolham-se os critérios que se escolherem para se avaliar o nosso nível de vida, da saúde à educação, da alimentação à cultura, do ambiente à democracia, da justiça ao emprego, as conclusões são as mesmas e notórias: a nível global estamos a viver melhor do que nunca”.
A frase acima transcrita faz parte de um artigo de opinião do advogado Adolfo Mesquita Nunes, publicado na edição de 05.03.2018, do Jornal de Negócios.
Aquela
frase foi a rampa para que as ideias se construíssem na minha mente pois há
muito que venho pensando num tema que, a cada dia que passa, me deixa mais
preocupada e pensativa: a Escravidão.
Fala-se,
escreve-se e filma-se muito sobre a escravidão. Temos por exemplo o livro
“Equador” de Miguel Sousa Tavares, ou do aclamado filme “12 Anos Escravo”, cujo
realizador é Steven Rodney "Steve" McQueen, também ele negro.
A
escravidão é um dos retratos sombrios, entre tantos, do desenvolvimento da
Humanidade. O esclavagismo era tido como normal e sem ele determinados países
não concebiam nem conseguiriam o respetivo desenvolvimento. Portugal foi dos
primeiros países a determinar a abolição da escravatura, decorria o ano de
1761. Obviamente que desde a decreto que abolia formalmente a escravatura até à
verdadeira efetivação da mesma, muita tinta e sangue haveriam de correr. Mas
isso são outras histórias e não desejo aqui estar com aulas de história até
porque não tenho pretensões a ser professora. Quem desejar que procure porque a
aprendizagem até deve ser uma constante nas nossas vidas.
O
propósito que aqui me traz tem apenas a ver com a escravatura dos tempos
modernos. O autor do artigo de opinião a que me refiro tem razão quando diz que
“estamos a viver melhor do que nunca”. É verdade: temos casas mais
confortáveis, os cuidados de saúde estão mais facilitados, os nossos filhos têm
o que nunca tiveram, há uma panóplia de máquinas à disposição no mercado para
lavar, secar, aspirar, cozinhar (só é pena não haver uma que engome – mas
parece que estamos a caminho do seu surgimento), ao virar da esquina temos um
take-away, e um sem nunca acabar de outras coisas. Ou seja, vivemos no mundo
encantado dos brinquedos (quase).
Agora,
deixem-me referir umas coisitas:
Uma
manhã soalheira de domingo, saí de casa com o meu marido e fomos esticar as pernas
até à praia. Maravilha! Passadas duas horas, ou coisa parecida, entro em casa e
o meu telemóvel começa a anunciar-me que tenho mensagens novas. Saco do dito e
aparece-me um “boneco” que só ao fim de algum tempo identifiquei como sendo do google
maps. Abri o ícone e helas! Uma pergunta maravilhosa: dê a sua opinião sobre a
Praia das Pedras Amarelas. Certamente já perceberam que foi uma das praias por
onde passei. Como é que o google sabia que eu tinha passado por aquele local? E
porque razão haveria eu de responder? Logo eu que não respondo a inquéritos.
Acham fantástico? Eu não! Vou arranjar modo de desativar o google maps. Afinal
sou uma defensora dos mapas em papel (mea culpa pela minha pegada ecológica).
Durante muitos anos, lá em casa, tivemos numa das paredes da cozinha um
planisfério. Excelente para aprendermos as capitais e as cidades dos países.
Quando jogávamos o jogo das palavras (felizmente, lá em casa, ainda temos esse
hábito) havia sempre alguém que tinha sede na altura de indicar uma cidade, o
que obrigava a uma deslocação à cozinha.
Muito
recentemente, tive necessidade de, através do google, fazer uma pesquisa
relacionada com Arcos de Valdevez e arredores: acessos, o que visitar,
freguesias. Ou seja, nada de especial. Hoje, recebi via e.mail um convite para
participar no Dia da Mulher, aproveitando uma estadia na “A*** H***”, em Arcos
de Valdevez. Ora nem sequer procurei estadias; somente pesquisei, em geral,
Arcos de Valdevez. Mais uma vez a minha vida privada foi invadida.
Hoje,
de manhã, ouvi na rádio, que, graças a uma portaria, ontem publicada, os bancos
vão ter que comunicar ao fisco todos os movimentos que o cliente faça com
cartões, seja de que tipo for, comunicação à qual não escapam até os cartões
refeição. Não acho normal que o fisco tenha que saber o que faço com o meu
dinheiro. Dizem que é para combater a corrupção e a fraude e a evasão fiscal.
Somos, realmente, um país sem fraudes e sem corrupção.
Até
25 de maio, próximo, em Portugal tem que entrar uma lei, transposta de uma diretiva
comunitário, sobre Proteção de Dados que, basicamente, destina-se a proteger os
dados pessoais dos cidadãos. Levantam-se vozes indignadas. Certo! Mas não serão
estas as vozes daquelas pessoas que ser servem do facebook e/ou de outras redes
sociais para se promoverem socialmente nem que seja só junto do vizinho? Fica a
pergunta!
Acabei
de ouvir, no telejornal de uma qualquer estação televisiva, que os portugueses
cada vez trabalham mais. É um facto indiscutível. Mas trabalham para o seu
próprio bem, enquanto pessoas com capacidade para se desenvolverem, ou para
comprarem mais um ipad ou mais um telemóvel topo de gama ou para darem aos
filhos um portátil que os compense das ausências? Obviamente que todos temos
que trabalhar, seja porque dignifica a nossa vida, seja porque é o nosso sustento,
ou seja mesmo por qualquer outra razão. Não importa o que move cada um para o
trabalho. Gosto muito de trabalhar, mas com peso e medida pois há valores dos
quais não me permito prescindir, como sejam os da família (sem ipads, sem
televisões a invadirem as refeições ou os quartos ou mais quanta parafernália
que por aí existe).
A
meu ver, somos cada vez mais escravos do poder, do sistema (que é uma palavra
que está muito na moda). Escravos da necessidade das pessoas fazerem pela vida?
Que vida? Das carteiras e dos sapatos? Da vida socialmente aceite, sem
discussões?
O
Museu Militar do Porto, cuja visita desde já aconselho, possui a maior coleção
de soldados de chumbo do país. São ao todo 16.000 soldados que representam
exércitos inteiros de todas as partes do mundo e de várias épocas da história.
Não somos 16.000. Somos incontáveis milhões. Milhões de soldadinhos vigiados,
formatados, comandados por um Big Brother desconhecido mas infelizmente
presente na nossa vidinha.
Somos
escravos. Mas somos tão felizes na nossa escravatura que nem damos conta de que
vivemos escravos mas com uma roupagem diferente daqueles que nos antecederam.
Um
dos princípios do Reiki é: só por hoje, trabalharei honestamente.
Só
por hoje, trabalhemos honestamente, só por hoje, tenhamos a CORAGEM de levantar
o véu do medo, o véu que ensombra os nossos sonhos e as nossas capacidades de
raciocínio e de crítica. Só por hoje, critiquemo-nos e tenhamos a CORAGEM de
fazer mea culpa e de assumir a nossa responsabilidade pelo modo hediondo como
somos levados a acreditar e a viver nesta cegueira estúpida.
Só
por hoje, lutemos e levantemos a nossa voz. Se não for por nós, que seja ao
menos pelas gerações vindouras. Só por hoje!
Sejamos Coragem
ResponderEliminarO que está em causa é muito mais que uma crise social ou financeira, o que está em causa é a continuidade da raça humana.
Grata pela reflexão