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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Sobre a Eutanásia - Maria Ferreira da Silva


Sobre a Eutanásia

Com tantos debates (ao nível público e televisivo) que tem havido sobre eutanásia e deveriam continuar, ninguém se pronuncia sobre a Alma ou o Espírito, nem os líderes religiosos, principalmente os cristãos do nosso País falam da componente espiritual; como se não fosse esse o fundamento do Cristianismo, como se nada mais existisse para além da matéria. Que eu saiba há milhares senão milhões de crentes do Cristianismo em Portugal e Cristo veio falar, exactamente, do Espírito e de Deus. Obviamente, que para os cristãos existe o Espírito, senão para que serviria a religião?

Num assunto tão importante porque não se fala no mais crucial que são as repercussões espirituais de actos de atentados à vida, tal a eutanásia? Que medo é este? Hoje, e no nosso País, onde se fala tanto na liberdade de expressão porque tantos têm medo de tão poucos? Como é que tão poucos conseguem o poder para legislar sobre um assunto tão vital para a maioria da população?
Aqueles que defendem a eutanásia provavelmente não passam de 20% da população e estes apoiam-se na deliberação proposta pela ciência para se acreditar que não existe nada mais para além do corpo físico e como tal, o Espírito não é tomado em consideração. Contudo, os restantes 80% da população são crentes; quer cristãos, quer de outras religiões, quer ainda dos que não estão vinculados especificamente a uma religião, ou seja, acreditam na vida em Espírito.

Os não crentes influenciam pela convicção. Onde está a convicção dos crentes para se oporem? Se não há convicção nas ideias que se professam, nomeadamente os cristãos, então falharam na sua fé e, assim serão ultrapassados (engolidos) pelos convictos.

Por muita incapacidade física e mental que alguém tenha no derradeiro momento da sua vida pelo sofrimento causado pela doença, até ao último suspiro está a sua Alma, que nunca morre e, por isso está para além da morte, a transferir, a transmutar e a preparar o Ser para a partida definitiva. Aqueles que morrem lentamente através de doenças têm uma grande oportunidade de maior preparação para a morte, elevação e progresso da sua vida espiritual, talvez o momento crucial para entrar na “dimensão consciencial” (após a morte), que lhe é destinada pelo seu mérito em vida, nem que no parecer da medicina já esteja em estado vegetativo.

Quem sabe o que se passa nesse momento crucial e derradeiro da morte? Inevitavelmente, cada um acaba por descobrir por si mesmo só no fim da vida.

Que sabem estes 20% que professam o ateísmo destes processos espirituais? Nada! Contudo, os crentes sabem. Porque não falam? Têm medo de falar? Porque não se põe a dúvida tanto para um lado como para outro? Aonde estão os crentes?

Esta será uma lei para dizer aos cidadãos como devem morrer e quando, pois como viver há muito que outras leis o fazem, condicionando-nos. Esta lei diz-nos que devemos acabar com a vida quando não sabemos lidar com o sofrimento. Não sou apologista do sofrimento, mas que cada um deva preparar-se durante a vida no sentido de ser cada vez mais consciente da sua condição espiritual, para um dia na morte, que é inevitável, possa encará-la corajosa e dignamente. Esse poderá ser o momento crucial meritório em prol do reconhecimento da vida também como Espírito.
Que se façam mais petições apelando à consciencialização e não aos referendos, pois estes são sempre imprevisíveis pela falta de conhecimento dos votantes. É preciso esclarecer a população, mas sobretudo deixar que manifestem sem medo as suas convicções espirituais, elas fazem parte da vida de todos os povos.

Que consciência tem uma pessoa moribunda para decidir quanto ao seu desfecho final, se não o de deixar-se levar lentamente para a libertação do sofrimento através da morte, sem que outrem a apresse? Que risco corre no seu nível de consciência a pessoa que decide o fim da vida de outrem (desse moribundo), interrompendo o processo em que a Alma prepara o desprendimento final do corpo físico? Não só a eutanásia implica a responsabilidade de quem decide desistir da vida (caso ainda seja consciente de o fazer), como do assistente que decide acabar com a vida de outro Ser. A questão é grave!

Seja lá quais forem as medidas éticas para tal procedimento, sem dúvida qua a maior é não tirar a vida a ninguém, nem a si mesmo.

Se alguém comete alguma imprudência, ela vai repercutir-se na sua Consciência e a Consciência representa a Alma no comando do corpo físico. Quando alguém resolve acabar com a vida, seja qual for a circunstância é um acto de desistência e que tem consequências ao nível da Alma ou vida espiritual. Qualquer ser humano que desiste da sua vida comete naturalmente um atentado à vida.


Maria Ferreira da Silva, escritora e  principal impulsionadora do Budismo Theravada em Portugal

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