A propósito
de…
Aquilo que
muitos agora defendem para agilizar a Morte, penso que é o resultado de séculos
em que a Morte foi dogmatizada pela igreja, usando-a como arma de poder sobre
os Homens, que são dominados pelo Medo daquilo que não compreendem e que são
criados numa civilização em que a ligação inata com o divino, manifestada na
ligação à natureza, foi cortada e mediatizada pelas religiões dominantes. Se
calhar deve ser por isso que não me surpreende o silêncio dos católicos,
provavelmente a confissão que mais cultivou o medo da morte, que no íntimo dos
seus crentes continua bem enraizado e os convida a um confortável silêncio.
Não é por
acaso que nas civilizações ditas atrasadas, menos evoluídas, em que a ligação à
natureza se mantém como parte estruturante da Vida, a Morte é encarada com
maior leveza, respeito e até em clima de celebração, como em África. Encontro
na visão budista, que encara a Morte como um momento do processo natural que é
a Vida, uma abordagem que me ajudou a pacificar com o medo secular da morte,
fazendo-me entender que a qualidade da minha morte apenas a mim me
responsabiliza, pela forma como conduzo a vida. E no derradeiro momento não
devemos reclamar o papel de julgadores, decidindo quem deve ou pode viver ou
morrer, ou como e quando se deve morrer. A morte de cada um é um processo
individual, marcado pelas leis do carma e do merecimento individual, sendo
também muitas vezes uma prova de compaixão e de exercício do perdão, para quem
assiste aquele quem se aproxima da morte:
“Segundo os
ensinamentos budistas, devemos fazer tudo ao nosso alcance para ajudar quem
está a morrer a lidar com a sua deterioração, dor e medo, oferecendo-lhe um
apoio cheio de amor que dará sentido ao final da sua vida. Cicely Saunders,
condecorada com a Ordem demérito pela rainha isabel II e fundadora do Centro de
cuidados paliativos de st. Christopher em Londres, afirmou: “Se um dos nossos
doentes solicita a eutanásia, significa que não estamos a fazer o que nos
compete”. Ela argumenta contra a legalização da eutanásia e refere: Não
somos uma sociedade assim tão pobre que não possa dispensar tempo, trabalho e
dinheiro para ajudar as pessoas a viverem até á morte. É nosso dever
aliviar-lhes a dor que os aprisiona no medo e na amargura. Para que tal
aconteça não precisamos de as matar …. Legalizar a eutanásia voluntária
(activa) seria um acto irresponsável, que dificultaria a ajuda, pressionando os
vulneráveis e abdicando do nosso verdadeiro respeito e responsabilidade
para com os mais frágeis e mais velhos, os incapacitados e perante
aqueles que estão a morrer”. In O Livro
Tibetano da Vida e da Morte.
Já no
Espiritismo, fez-se luz sobre a razão de a morte não dever ser abreviada, face
à importância de um último minuto consciente e redentor, durante o qual o
espírito, suavizado do seu sofrimento pela assistência e compaixão de
quem o envolve, pode pacificar-se com a sua vida e partir em paz:
“Sei muito
bem que há casos que se pode considerar, com razão , desesperadores. Mas se não
há nenhuma esperança fundada de um retorno definitivo à vida e à saúde, não há
também incontáveis exemplos de que, no momento de dar o último suspiro, o
doente se reanima e recobra a sua lucidez por alguns instantes? Pois bem! Essa
hora de graça que lhe é concedida pode ser da maior importância , pois ignorais
os pensamentos que o espírito pode pôde fazer nos seus momentos finais da sua
agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um minuto, um momento de
arrependimento. O materialista que apenas vê o corpo e não se dá conta da alma
não pode compreender estas coisas. (…) Suavizai os últimos sofrimentos tanto
quanto vos seja possível fazê-lo, mas guardai-vos de encurtar a vida, que seja
apenas um minuto, pois esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro”. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Alain
Kardec.
Nas duas
perspectivas, enaltece-se a importância da assistência compassiva e amorosa de
quem acompanha a pessoa até esse momento derradeiro, assim se encarando a Morte
como uma missão ou um desafio, quer para quem parte, mas também para quem pode
aliviar os medos e sofrimentos dessa partida.
Marta Sobral
Bem haja Adelina lopes e colaboradores nesta luta pela integralidade do ser humano.
ResponderEliminarBom dia Lino Meireles
ResponderEliminarAs vozes unidas não podem ser ignoradas para sempre. Façamos ouvir a nossa voz. Grata