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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Desabafos miudinhos



Hoje percorri distâncias enquanto procurava um livro para crianças…foi um saturar de pega e poisa que me fez duvidar da minha capacidade de escolher um livro para o meu neto, um ser que faz parte da  raça  que estamos  a
“cri (ar) anças”.
Eu sei, eu sei que a culpa é minha! Em algumas coisas sou muito nariz no ar! E se calhar pouco versada (e menos ainda convencida) nos métodos de infantilizar que babam de alguns livros, enquanto que outros respingam sangue de crueldade, que em diagonal, cruza a literatura infantil… hoje, até o La Fontaine mandei passear.
Nos filmes, nos desenhos animados, e também na literatura infantil (na maioria) vemos projectada a miséria humana no seu pior, em formato “para crianças”.
Mas que raio? Porque é que devo confrontar uma mente moldável, em aprendizado, com as mais abomináveis capacidades do ser humano? E nessas histórias que por vezes nos deixam os pelos em pé de tão cruéis, as principais vítimas, curiosamente, são crianças ou animais…
Mas não dei o meu tempo por perdido, e fazendo jus ao ditado de que quem procura sempre encontra, encontrei, ou re_encontrei António Pina.
Reencontro, porque já conhecia alguma da sua imensa capacidade de nos despertar, abanar, cativar com a sua poesia.
Encontro, com os seus poemas para crianças, que entraram neste coração de avó, e aqui permanecerão.

Senão, vejam só:

O ar não se vê
não se sente nem se ouve
mas quanto mais se sobe
Mais não sei quê.

E quando se sobe
sem sair do chão?
Quando a cabeça se move
e o resto do corpo não?

A cabeça subindo
pelo lado de dentro
e o teu pensamento
tão limpo e tão lindo.

Do livro: “O Pássaro da Cabeça” de Manuel António Pina


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