Hoje
percorri distâncias enquanto procurava um livro para crianças…foi um saturar de
pega e poisa que me fez duvidar da minha capacidade de escolher um livro para o
meu neto, um ser que faz parte da raça que estamos a
“cri (ar) anças”.
“cri (ar) anças”.
Eu
sei, eu sei que a culpa é minha! Em algumas coisas sou muito nariz no ar! E se
calhar pouco versada (e menos ainda convencida) nos métodos de infantilizar que
babam de alguns livros, enquanto que outros respingam sangue de crueldade, que em
diagonal, cruza a literatura infantil… hoje, até o La Fontaine mandei passear.
Nos
filmes, nos desenhos animados, e também na literatura infantil (na maioria)
vemos projectada a miséria humana no seu pior, em formato “para crianças”.
Mas
que raio? Porque é que devo confrontar uma mente moldável, em aprendizado, com
as mais abomináveis capacidades do ser humano? E nessas histórias que por vezes
nos deixam os pelos em pé de tão cruéis, as principais vítimas, curiosamente,
são crianças ou animais…
Mas
não dei o meu tempo por perdido, e fazendo jus ao ditado de que quem procura
sempre encontra, encontrei, ou re_encontrei António Pina.
Reencontro,
porque já conhecia alguma da sua imensa capacidade de nos despertar, abanar, cativar com a sua poesia.
Encontro,
com os seus poemas para crianças, que entraram neste coração de avó, e aqui
permanecerão.
Senão,
vejam só:
O ar não se
vê
não se sente
nem se ouve
mas quanto
mais se sobe
Mais não sei
quê.
E quando se
sobe
sem sair do
chão?
Quando a
cabeça se move
e o resto do
corpo não?
A cabeça
subindo
pelo lado de
dentro
e o teu
pensamento
tão limpo e
tão lindo.
Do
livro: “O Pássaro da Cabeça” de Manuel António Pina
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