Conto
de Natal – Jorge Fernandes
Hoje
levantei-me mais tarde.
Não
fiz a barba; saudei o Sol e agradeci aos meus órgãos internos por manterem este
corpo vivo.
Bebi
um chá e saí com o meu cocker. Fomos passear num local longe do trânsito.
Guiei-o pela trela porque ele não vê, e ambos formos absorvendo o Tao; como ele
se manifesta em múltiplos sons.
Ouvi
a água a correr, o assobiar do vento nas folhas das árvores. Ao longe o ladrar
de um cão misturado com o cacarejar das galinhas, mais perto de nós uma
melodiosa canção dos passarinhos.
Vi no
céu azul o desenho que as pombas combinaram num circulo perfeito. Um rebanho de
ovelhas manifestava-se em desafio num prado verde.
Neste
espaço harmonioso corriam de vez em quando alguns atletas sem fazer
qualquer estrago.
Escutei
demoradamente esta orquestra da natureza, grato por
também meus pensamentos participarem da música. Surgiu então um
som moderno - sem vida própria, uma mensagem do telemóvel
que lembrava que o natal é quando um homem quiser. Verdade, pensei eu!
Para os outros seres é todos os dias, disse-me o Putchi calado.
De
regresso à agitação normal do Natal, trouxe no ouvido a voz rouca de Joe
Cocker a dizer que continua vivo.
Jorge
Fernandes
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